O poder terapêutico da gratidão

“Conta as bênçãos, conta quantas são
Recebidas da divina mão
Uma a uma, dize-as de uma vez
Hás de ver surpreso quanto Deus já fez”
A gratidão é uma virtude – um traço de caráter excelente, valorizado pelas principais religiões do mundo e em todas as culturas. Para o escritor romano Cícero (106-43 a.C.), a gratidão não é somente a maior das virtudes, ela é a origem de todas as outras. Além de virtude, a gratidão pode ser também considerada uma emoção, associada aos sentimentos agradáveis resultantes de um benefício recebido, muitas vezes imerecido, seja ele material ou imaterial. O teólogo Dietrich Bonhoeffer afirmou: “Na vida quotidiana, dificilmente percebemos que recebemos muito mais do que damos, e é somente através da gratidão que a vida se torna rica”.
A ciência contemporânea tem comprovado os inúmeros benefícios da gratidão para a saúde física e mental. Vários estudos revelaram que as pessoas gratas apresentam menor incidência de depressão e pensamentos suicidas, redução dos níveis de stresse, melhoria da qualidade do sono, diminuição da pressão arterial e do risco de doenças cardíacas, bem como uma menor taxa de mortalidade.
A graça imensurável de Deus, que tomou a iniciativa de Se dar a conhecer e preparou uma maneira de nos reconciliar com Ele por meio do sacrifício de Jesus na cruz, deve gerar em nós uma gratidão genuína. Por isso é que a expressão “graças a Deus” e outras semelhantes são tão frequentes nas Escrituras. Elas revelam o reconhecimento da misericórdia divina e o louvor que brota do coração de quem foi alcançado pelo Seu amor.
Há momentos na vida em que o sentimento de gratidão pode estar ausente, como quando somos vítimas de injustiça ou em ocasiões de dor e sofrimento. Mas se manifestarmos a virtude da gratidão, mesmo nessas circunstâncias, o Senhor alegra-se, pois demonstramos confiança plena no Seu cuidado e soberania.
A Palavra de Deus adverte-nos que a ingratidão é uma marca da humanidade caída. O apóstolo Paulo escreve aos romanos que a ira de Deus contra a humanidade é a consequência de não O glorificarem como Deus nem Lhe darem graças (Rom. 1:21). E na sua carta a Timóteo, avisa que a ingratidão será uma caraterística dos últimos dias (2 Tim. 3:2).
Paulo exorta os crentes a cultivarem uma atitude constante de gratidão: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1 Tes. 5:18). A mesma orientação aparece nas suas cartas aos Colossenses (3:15-17) e aos Filipenses (4:4-7). O próprio Senhor Jesus enalteceu a gratidão de um dos dez leprosos curados (Luc. 17:15-17), demonstrando que a gratidão agrada a Deus.
Como todas as virtudes, a gratidão pode e deve ser ensinada, e a forma mais eficaz é através do exemplo. Jesus, nosso modelo supremo, era uma pessoa grata, mesmo ciente do sofrimento que o aguardava (cf. Mat. 26:26-28, Luc. 10:21, Jo. 11:41,42).
Para Bonhoeffer, “na vida do cristão, a gratidão é tão importante quanto a oração”. Ela é parte integrante da identidade do crente em Jesus. Algumas formas práticas de demonstrarmos gratidão pela obra de redenção que Deus fez na nossa vida, incluem: reservarmos diariamente um tempo a sós com Ele, louvarmos a Deus individualmente e com outros irmãos, partilharmos a nossa fé com os que ainda não conhecem o Senhor, contribuirmos fielmente, através de dízimos e ofertas, para a expansão do Reino de Deus, envolvermo-nos em programas de voluntariado, e obedecermos à chamada de Deus para a nossa vida.
No meu tempo devocional, costumo com frequência agradecer a Deus pelas inúmeras bençãos recebidas, antes de pedir alguma coisa ao Senhor. Mesmo assim, estou consciente que jamais poderei agradecer devidamente o infinito amor de Deus, tão claramente demonstrado na morte voluntária e sacrificial do Senhor Jesus em meu lugar (cf. Luc.17:10).
Que a oração do salmista seja também a nossa: “Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de nenhum dos seus benefícios. É ele que perdoa todas as tuas iniquidades e sara todas as tuas enfermidades; quem redime a tua vida da perdição e te coroa de benignidade e de misericórdia; quem enche a tua boca de bens, de sorte que a tua juventude se renova como a águia.” (Sal. 103:1-5).
Texto: Dr. Jorge Cruz
Imagem: Jon Tyson em Unsplash