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Uma geração com pressa

 

Ellie McBain pergunta se haverá outra forma.

Original Article: https://www.cmf.org.uk/article/a-generation-of-hurry/


Acordar, tomar o pequeno-almoço, ir para a faculdade, certificar-me de que recebo as minhas aprovações, discutir casos, ir para casa, fazer exercício, rever, cozinhar, jantar, socializar com os colegas de casa – o meu dia é frequentemente vivido a correr de uma coisa para outra. Com intermináveis ​​listas de tarefas, estou sempre a pensar no que preciso de fazer, não querendo perder tempo e querendo levar uma vida equilibrada. No entanto, no meio de toda a correria e caos, o meu tempo de ecrã é de algumas horas por dia, com períodos de scroll interminável no Instagram, Facebook e TikTok, e onde é que o tempo com Deus se encaixa na minha agenda diária preenchida? Muitas vezes, não se encaixa ou fica colocado à força lá pelo meio e torna-se algo só para colocar mais um “feito” na lista de tarefas. Como estudante do último ano de Medicina, este é o momento de implementar bons padrões e práticas na minha vida para prosperar como uma médica estagiária – e, nesta geração com pressa, será que existe outra forma?

Fui recentemente desafiada ao ler “Elimine a pressa definitivamente”, em inglês “The Ruthless Elimination of Rush”, de John Mark Comer (um livro fantástico que recomendo vivamente a leitura, especialmente se fores um estudante do último ano, como eu).

A pressa é endémica na nossa sociedade – corremos para fazer as coisas, não construímos tempo em torno das nossas atividades para ter espaço para não fazer as coisas à pressa, e é um desafio viver a um ritmo contra cultural. Sou viciada no meu telefone, em scrolling sem parar, em notificações a aparecer, em responder a mensagens, em e-mails e em pesquisar algo no meu telefone enquanto outra coisa acontece em segundo plano. E sei que não sou só eu. É relatado que as pessoas nascidas a partir de 1996 (Geração Z) veem mais de sete horas de vídeos por dia, saltando do TikTok para o YouTube e para a Netflix, e está a aumentar.

O problema da pressa é que a ocupação em que vivemos é uma barreira às nossas vidas espirituais: afasta-nos de Deus, mas também do amor, da alegria e da paz, coisas que recebemos de Deus. Tudo leva tempo, as amizades levam tempo, e conhecer Deus leva tempo e a forma como gastamos o nosso tempo determina o tipo de pessoa em que nos tornamos.

Quando olhamos para Jesus, podemos ver que mesmo com o seu sentido de propósito e urgência, ele raramente estava com pressa, e Jesus liderou um ministério de interrupções. A sua agenda, já lotada, foi interrompida quando ele estava a ensinar dentro de uma casa - de repente, o teto abriu-se e quatro homens levavam o seu amigo para ouvir Jesus! No entanto, ele não ficou irritado por ter sido interrompido!

Como posso ser mais parecido com Jesus nestes dias modernos de tecnologia e cultura agitada, ocupação e caos?

Como viveria Jesus se fosse eu, uma estudante de Medicina que enfrenta exames, colocações, tenta encontrar algum tipo de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e aguarda o início da carreira profissional como médico júnior no SNS? Portanto, a questão é: como posso adotar um estilo de vida semelhante e ser mais parecido com Jesus nestes dias modernos de tecnologia e cultura agitada, ocupação e caos?

Comer escreve sobre quatro práticas na nossa vida que podemos implementar para combater algumas destas ocupações e para nos mantermos emocionalmente saudáveis ​​e espiritualmente vivos.

  1. Silêncio e solitude

Estar com Deus em momentos de silêncio é de onde vem a nossa força. Numa casa barulhenta, ou quando não tens paz e sossego numa viagem, pode ser difícil encontrares tempo para te sentares no momento com os teus pensamentos, com Deus, e estares presente. Jesus retirou-se muitas vezes e encaixou o silêncio e a solidão no seu dia, mesmo quando ocupado e caótico, utilizando o tempo a altas horas da noite ou de manhã cedo. Sei que tenho dificuldade em acordar cedo e acho difícil concentrar-me em Deus quando estou a adormecer tarde da noite, mas se é daí que vem a força, será que estou a dar prioridade a isso?

  1. Sabbath

O Sabbath é um dia da semana para descansar e adorar, para parar e deleitares-te. Não apenas um dia de folga do trabalho, um dia para fazer compras, lavar roupa ou para fazer todas as outras tarefas que não consigo fazer de segunda a sexta-feira, mas um dia que me vai encher a alma de alegria. Quando a época de exames se aproxima ou os torneios desportivos te levam a outra cidade para passar um fim de semana, é fácil perder esse dia. Por vezes, trata-se de dares o teu melhor nesta prática. A pergunta a fazer é: ‘O que posso fazer durante 24 horas que encha a minha alma de alegria?’ – e se eu tiver apenas duas horas num fim de semana, ‘O que posso fazer nesse tempo para encher a minha alma de alegria?’

  1. Simplicidade

Isto vai contra os “ismos” da sociedade: o consumismo e o materialismo, por exemplo. A minha casa está cheia de confusão: vários sacos de pano que comprei em feiras de caloiros, inúmeras canetas grátis (embora eu diria que as canetas são sempre úteis!) e aqueles cartões de anatomia que achei que seriam úteis. Todos os anos, ao mudar os meus pertences de uma casa de estudantes para outra, fico surpreendida com a quantidade de coisas que tenho – muito mais do que aquelas de que necessito. O ditado ‘uma casa arrumada é uma mente arrumada’ traz verdade quando pensamos em descomplicar as nossas vidas. Que bens são mais importantes para mim? Preciso mesmo de ____? Posso viver com menos?

  1. Desaceleração

Pára com o multitasking e fica totalmente presente no momento. Tudo o que deixamos entrar nas nossas mentes influencia a alma – por isso, vai devagar! Na prática, penso que isto significa avaliar a utilização do telefone, talvez reservando um tempo específico para as redes sociais e responder a e-mails. Não passar a vida a fazer bingeing na Netflix. Não apresses tudo o que fazes (até mesmo a andar - não preciso de andar com vigor para todo o lado). Diminui a velocidade e passa algum tempo sozinho a refletir. Para alguns, isto pode ser escrever um diário, orar ou meditar nas Escrituras. Nem sempre têm de ser atividades espirituais, mas abrandar as coisas que já fazemos é o oposto de nos apressarmos.

O objetivo é a prática destas quatro coisas, não a perfeição. Sei que é um processo, mas ao pensar em iniciar o primeiro ano de trabalho, sei que quero seguir o exemplo de Jesus, estar em sintonia com Deus e tentar eliminar um pouco desta pressa da minha vida.

Eliminar a pressa das nossas vidas pode muitas vezes parecer irrealista ou impraticável. Numa semana de trabalho que, enquanto médico júnior, dura em média 48 horas, pode parecer que a única forma de deixar de ter pressa é reduzir o horário de trabalho e, com isso, reduzir o salário. Penso que é mais sobre como podemos adotar uma abordagem um pouco diferente da daqueles que nos rodeiam, como podemos mitigar alguns dos problemas das vidas ocupadas, reservando um curto período de tempo no silêncio, priorizando algum tempo para o sábado, livrando-nos de itens de que não precisamos e realizando algumas atividades um pouco mais devagar.

Desafio-te a pegar num destes aspetos e praticá-lo! Como seria para a Geração Z excluir a pressa das nossas vidas?

Ellie McBain é recém graduada de Newcastle e presidente cessante do Conselho Estudantil do CMF.

Tradução: Ana Catarina Fidalgo Rodrigues

Imagem: José Martín Ramírez Carrasco em Unsplash